segunda-feira

Conversa avinagrada


Em algumas cidades do interior por onde eu já estive, certas frases são bastante comuns e engraçadas. Algumas pessoas têm o costume de falar o seguinte, quando encontram com uma pessoa conhecida que não vêem há algum tempo: Vixe, mas tá é gorda! Tá é bonita! A gordura é um sinal de beleza. Nas cidades mais civilizadas um comentário desses pode ser bastante ofensivo e gerar alguma confusão. Entendo o quanto pode ser incoveniente, mas, é algo tão prosaico que deve ser relevado, porque, em verdade o que está acontecendo é um elogio bastante verdadeiro. A cultura, tanto no interior quanto nas cidades desenvolvidas é algo bastante interessante de se observar. Entretanto, algumas coisas da cultura civilizada me dão um certo desconforto e é sobre isso que quero escrever em verdade. A cultura oral de discussão sobre vinhos me incomoda um pouco. Algumas pessoas lêem almanaques e ficam arrotando cultura e conhecimento, achando que são Renato Machado. Fica parecendo a explicação de uma piada ou de uma poesia por quem não sabe contar a piada, tampouco explicá-la. Nestes casos, para mim, perde-se completamente o encanto. Sinceramente, notas amadeiradas interessam às minhas papilas gustativas, não ao meu aparelho auditivo. Pretensão ao falar disso, como se o tornasse alguém mais civilizado ou inteligente, corresponde a uma grosseria sem tamanho. Naturalidade em falar sobre a vida e seus prazeres, dentre eles o de se beber um vinho, deixam esse processo social mais real e saboroso. Esse conselho é bastante grosseiro, mas: enochatos tomem vinho pelas orelhas e me deixem degustar o meu Sangue de Boi silenciosamente.
Bjus
Foto: Garrafa do vinho Sangue de Boi, motivo de chacota por ser um produto popular, basante barato e de qualidade duvidosa, mas, que faz a felicidade de muita gente com pouca grana.