Acho que fomos alienígenas imaginários por muito tempo. Vivíamos em Vênus. Nosso parâmetro para o delicado sempre teve algum tipo de relação com o universo da mulher. Não sei se isso era uma forma de sexismo, de discriminação, de apartheid ou de qualquer outro modo de fragmentação social. Entretanto, sofro de um saudosismo da delicadeza. Enquanto os homens sempre foram os rudes, as mulheres, compensavam o equilíbrio social com a doçura. Sei que esta idéia é bem ultrapassada, mas, o que quero dizer é que com a inclusão das mulheres de forma mais participativa na sociedade, ocupando todos os espaços que são de suas competências, acredito que ninguém está tomando conta daquele lugar outrora ocupado por elas. Não estou querendo dizer que elas devam voltar àquele modelo machista. O que me faz refletir aqui é que, de algum modo, naquele modelo de sociedade existia um lugar possível para o cultivar do delicado, do feminino, da não violência. Posso estar equivocado em minhas idéias e isso pouco importa. O que vale à pena é pensar sobre o assunto e tomar alguma atitude. Sinto que se não fizermos algo para cultivar o afeto, todos juntos, homens e mulheres, a escalada da violência deve tender ao infinito. Sei que parece meio doido eu associar o desaparecimento do cultivo do delicado ao fato de estarem as mulheres crescendo profissionalmente, ocupando outros postos de serviço antes apenas ocupados por homens. Jamais quereria culpá-las por qualquer coisa. Seria de uma imbecilidade impar. Isso é apenas um texto provocativo e romântico. Romântico por eu lembrar dos cuidados que a minha mãe (Dona Mercês) teve, já que estava o dia à disposição dos filhos, em nos alertar para valores fraternos e humanos. A delicadeza, o feminino dela foi importante para mim e acho que para os meus irmãos. Se por acaso tivesse sido o meu pai (Seu Zé Mendes) o responsável por isto, seria igualmente importante. O que quero frisar mais uma vez é que eu estou com medo de ser um morador do planeta terra. Vênus era bem legal! A violência banalizada (eita, viva a Hannah Arendt!) parece ser um caminho irreversível.
Bjus
Foto: Esta foto de Vênus foi feita pelo avançado radar Magellan, que pode ver atraves das nuvens.
