quinta-feira

Dona Léa estava certa!


Fui assistir ao espetáculo teatral A Alma Imoral, adaptado de livro homônimo, escrito pelo rabino Nilton Bonder. A adaptação e interpretação do texto é da atriz Clarice Niskier, muito boa por sinal. Ela começa conversando com a platéia a respeito de ter falado em um programa de entrevistas que se sentia uma judia budista e que recebera um fax de uma telespectadora (Dona Léa) dizendo que aquilo não existia, daí a idéia do espetáculo. O texto é sedutor, mas, cuidado: o judaísmo não é aquilo. O que mais se aproxima talvez seja o movimento reformista que defende a introdução de novos conceitos e idéias na vivência da religião judaica, adaptando ao mundo atual.Com relação ao budismo, que além de religião é um sistema ético e filosófico, este permite que os seguidores possam seguir normalmente outras religiões e não apenas o budismo. No espetáculo, o texto cheio de antíteses e paradoxos seduz o espectador pela relativização de muitas premissas religiosas, ou seja, assim fica fácil ter fé! Acho que o espetáculo agrada muito a quem está saindo de algum relacionamento ou está competindo espaços dentro da relação, relativizando, inclusive a traição. Ela pega elementos da pulsão de morte, estudada por Freud, para justificar os desvios celulares e da "alma". O que é muito interessante é a interação com o público: ela avisa que vai beber água em alguns momentos do espetáculo e que nesta hora a platéia pode pedir para que ela repita alguma parte do texto num verdadeiro exercício mnemônico. No meu perceber, mais desconfiado, um recurso para seduzir a platéia, pela carência das pessoas e vontade de ter alguém falando com elas; na percepção de Telminha, um recurso delicado que permite que as pessoas interajam com o ator sem ser aquela coisa agressiva de alguns espetáculos de comédia. O figurino é bem legal, um pano grande que ela faz várias vestimentas: saia, vestidos, burca, etc. É quase um São Paulo Fashion Week. A nudez é completamente pertinente, não sendo vulgar ou apelativa. Na peça tudo é tudo e nada é nada: o texto é sobre moral, mas, defende o contrário dela, o figurino não é roupa, a atriz bate um bom papo com o público: aquilo é teatro sem ser teatro. É o verdadeiro e inexistente judaísmo budista!
Imagem: encontrada no endereço
http://es.catholic.net/ecumenismoydialogointerreligioso/390/855/articulo.php?id=2166