sexta-feira

Herança maldita


A culpa que levamos, entranhada sempre em um lugar dolorido, talvez seja tão ruim quanto alguns comportamentos herdados dos nossos familiares. Muitas vezes nos punimos por termos feito algo: é a pena a qual nos submetemos para tentarmos ser perdoados. Mas, nós nunca nos perdoamos, somos implacáveis conosco. Mãe comete um erro, aplica-se a penalidade da reclusão e passa a viver como um fantasma, guardando sempre seu segredo. Filha comete erro ao pré-julgar a mãe, aplica-se a penalidade do exílio, guardando sempre seu segredo. Neta, comete um erro também, mas, quebra a tradição, contando logo seu segredo. A tradição fora quebrada, mas, a culpa flutua em sua cabeça. Essas ações das personagens são propositais para a união dessas mulheres fortes e que, com o passar dos tempos, aprendem a confiar uma nas outras. Almodóvar não deixa de ser um provocador dos valores cristãos, nos deixando de frente com nossos pecados, nossas neuras e posturas politicamente incorretas. Todas as personagens, em seus tempos, precisaram errar para aprender. Aquela idéia que você somente será salvo, se passar por um martírio. Impressionante a capacidade do diretor em adequar personagens e atores. O filme já vale pela cena de abertura no cemitério. Eu, particularmente, gostei muito do filme, alguns podem ter saído frustrados por esperar algo mais chocante. Achei o filme particularmente profundo, mascarando a morte emocional com a morte material. Estarei mais empenhado em me livrar de alguns fantasmas, não quero ficar vagando...
PS: Gemmal, impossível não lembrar de você pelas cores e pela cena em que a Penélope lava as facas na pia.
Foto: Chus Lampreave, atriz do filme Volver que interpretou Tia Paula, em campanha publicitária para Joalheria Gandolfi.

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